A porta
se abriu e uma figura alta adentrou silenciosamente o quarto, sua veste
negra mesclando-se às sombras. A débil luz da lamparina tremulava
ao lado da cama, onde uma pessoa roncava sofregamente. O visitante
aproximou-se dela, observou-a por alguns instantes e pousou a mão sobre o
seu pescoço...
– Parece
que os batimentos cardíacos estão em ordem. – William pensou consigo mesmo,
sorrindo para o pai adormecido. Ajeitou o travesseiro e cobertores
com cuidado para que não despertasse e se pôs a recolher as
garrafas vazias jogadas pelo quarto. Com pesar, percebia que elas só
aumentavam dia após dia, assim como o odor de uísque e aguardente
na casa. Se as coisas piorassem, poderiam se tornar irreversíveis...
– Apesar
de que elas já se tornaram. – consultou seu relógio de bolso,
verificando que a hora de seu próximo compromisso da
noite se aproximava. E seria uma noite tão decisiva quanto aquela em que encontrara o
lorde negro e salvara um filete da esperança que esvaía-se junto à pesada chuva.
Antes de
sair, olhou mais uma vez para o velho senhor como se pedisse coragem
e bênção, quase o garotinho que costumava buscar refúgio
dos olhares reprovadores e dos ameaçadores monstros do armário. Mas
talvez ele mesmo estivesse se tornando um dos monstros agora.
Eu vou
matar um homem hoje, pai. – sussurrou, tendo consciência que o sono
alcoólico o impediria de ouvir a dura confissão – Talvez eu não
volte, e se voltar, não serei o mesmo. Mas não tenho escolha. Eu...
Calou-se.
O velho senhor não deveria carregar mais esse fardo, mesmo
inconscientemente. William só precisava ter em mente seus próprios
motivos, e eles eram claros como um farol aceso no oceano noturno.
Apagou a
lamparina, deixou um envelope sobre o criado-mudo e deslizou para
fora do quarto. Não chovia, tampouco havia Lua ou nuvens para
testemunharem o que viria a seguir.
"Olá
pai. Como tem passado?
Os
deveres na casa Nightray me impedem de estar com o senhor com mais
frequência, mas pude passar aí rapidamente noite passada, durante
uma breve viagem a serviço. Como era tarde da noite, o senhor já
ressonava e não quis acordá-lo.
Fiz uma
rápida limpeza, como pode perceber. Não fique magoado, é meu
jeito. Mas pode brigar comigo da próxima vez que nos vermos.
O médico
deve lhe fazer uma visita essa semana. Por favor, como seu filho,
peço que siga as recomendações dele. Afinal, o senhor precisa
estar saudável para passearmos em seu aniversário, não é mesmo?
Por
enquanto me despeço.
Com amor,
Com amor,
William."
O veneno
espalhou-se rapidamente, culminando em um infarto fulminante em pleno
baile dançante. O copo de vinho que a vítima segurava espatifou-se,
tingindo o tapete e a noite de vermelho vivo...
Texto interessante...vamos ter novo conto á caminho?Já fiquei curiosa com esse William...hehehe...o/
ResponderExcluirSaudações
ResponderExcluirNão acredito que seja uma vã impressão de minha parte, mas poderia se tratar de uma nova série à caminho, Ana?
Muito interessante vosso texto, seguramente.
Até mais!