Ano
3116 CH - Ciclo 01 – Semana 1
Temperatura média 24ºC, sem sinal de nuvens, brisa leve e fresca. Os
cacos de vidro dos prédios desmoronados brilham sob o sol do meio-dia,
encobrindo as ruas e calçadas da longa avenida. A fumaça se ergue das poucas
árvores que restam, contrastando com o azul dominante do céu. Uma paisagem
tranquila e aparentemente imperturbável.
Até um veículo branco, arredondado e flutuante surgir ao atravessar um
monte de entulho, espalhando ruído, vidro e concreto em todas as direções.
Vários rapazes e moças armados com tacos de beisebol o perseguem, mas só lhes
resta praguejar em meio aos escombros ao vê-lo se afastar sobre o mar de vidro
intransponível por terra.
A frente do bando, um rapazote magrelo de olhos avermelhados e cabelos
castanhos bagunçados encara o ponto branco distante com ódio contido, destoando
da algazarra irracional que seus companheiros fazem. Frustrado, ele urra
furiosamente e bate seu taco de beisebol dourado no chão com força suficiente
para trincá-lo.
– DESGRAÇADOS!!!
Dentro da cabine para três pessoas, um casal respirava aliviado. As
janelas seladas com película escura escondiam a paisagem desoladora, mas não
era preciso muita imaginação para visualizar o ambiente ao redor.
– Nós
acabamos de atravessar o edifício Montparnasse II, certo?
–
Finalmente despistamos aqueles moleques raivosos e você está preocupada com o
prédio, Kari?
– “Apenas”
o prédio mais alto do que costumava ser o mais avançado projeto arquitetônico
do continente, Ymir... acho que é mais importante do que aqueles psicopatas. –
ela não disfarçou a forte melancolia no comentário.
Ymir suspirou, tirou uma das mãos do controle em forma de U e
pousou-a sobre as da garota. Ela ensaiou um sorriso com a força que restava e
olhou carinhosamente para ele. As últimas semanas haviam sido uma eternidade de
provações, mas um filete de salvação era agora quase visível.
– Estamos
perto da capital. Com sorte encontraremos sua irmã antes do anoitecer,
finalmente... Espero que ela esteja em condições de nos receber.
– Dione
garantiu que o Endeavour está seguro, apesar de isolado. A essa altura, prefiro
acreditar nela cegamen...
Repentinamente, as luzes de emergência piscaram freneticamente e o
painel externo exibiu um exterior tão vermelho quanto o interior. Um grande
incêndio estava à frente deles, o que fez a pele morena de Kari acinzentar.
– Parece
que contornar está fora de questão. – Ymir
sorriu nervosamente e engoliu em seco, sentindo a temperatura aumentar
consideravelmente.
– Altura e
velocidade máxima. – ela
disparou, o olhar vidrado na tela e as mãos sobre as de Ymir. Depois de alguns
instantes, completou – Eu te amo, astronauta caçula.
– Eu te
amo, engenheira novata.
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