Constance, um nobre galeão sequestrado e rebatizado
de Lúgubre Consorte nas mãos dos piratas em 1720, teve o destino cruel de uma
donzela arrancada do bom caminho. Entretanto, tanto fez que pareceu afeiçoar-se
a essa nova vida de liberdade e anarquia, até ser dominado - leia-se afundado -
pelas autoridades em 1725.
Toda a tripulação do nefasto Capitão Mortimer foi
enforcada em um ato louvável de justiça divina representada na Terra.
Irredutíveis e zombeteiros, tombaram bradando e maldizendo Deus, a Rainha e a
única alma viva que pôde ser salva de suas vilanias.
“Atkins! Atkins! O que é seu está guardado e o
diabo há de vir buscar!”
Charles
abriu os olhos repentinamente, sentindo as costas doloridas pela má posição em
que dormira. Seu diário encontrava-se aberto sob seus braços, nos quais seu
queixo se apoiava de mau jeito. Jogou-se para trás na cadeira com um gemido
abafado, lamentando a idade que começava a pesar. Percebeu que a madrugada avançava.
Repassou detalhadamente
o mapa que acabara de reproduzir no papel. O cadáver totalmente mutilado de
Percy atacava o ambiente com seu odor de carniça e secreções, banalidades que há
mais de duas décadas não incomodavam o cirurgião. Os pedaços de pele e carne
contendo o mapa não eram mais necessários e foram despejados com os detritos
incineráveis. O resto do corpo seria despachado logo em seguida, tendo cumprido
sua inestimável função.
Deus salve a misericordiosa Rainha –
murmurou com um meio sorriso, guardando o mapa no bolso e vestindo sua cartola
e manto.
Saudações
ResponderExcluirCharles me parece ser o tipo de personagem que age conforme as próprias crenças, anseios e perspectivas. Não parece, nesta parte do conto, que ele estivesse amargurado com algo. Na verdade, tal homem parecia tão à vontade com o que cercava-o que qualquer ação seguinte lhe soava como minimamente normal...
Pergunto-me se ele terá êxito naquilo que quer...
Até mais!