Ei, Glasby, passa pra cá esse rum,
seu sacripanta!
O velho John tinha um navio
galante.. e todas as meretrizes do cais...até que uma corda
ligeira... fez o John ser passado pra trás...
Um dia aquele Silver aparecerá
aqui também, e nesse dia eu...
De olhos fechados, Charles discernia a
algazarra dos piratas espalhados pelo porto, a música ruim e
o odor marítimo misturado ao perfume barato de prostitutas. Em
terra, eles não passavam de arruaceiros da pior
espécie, causando todos os tipos de problemas e lembrando-o de que
vivia entre os proscritos da sociedade, independente de sua educação superior.
Mas graças a isso, posso
trabalhar livre de moralismos desnecessários. É o preço a se pagar
pelo avanço científico... mas... o que há com essa cama, mais dura
do que o usual...
Charles se mexeu um pouco, fazendo uma
leve careta e abrindo um dos olhos. Os borrões que enxergou pareciam enganar seus sentidos, mas quando viu-se totalmente
alerta, nada mudara no cenário. Grupos de
piratas jogavam, bebiam, cortejavam e brigavam, o que a princípio
era completamente normal.
Estamos todos bêbados, bêbados de
cair...
e todos que não estiverem bêbados,
deem o fora daqui!*
Tirando o fato de que alguns estavam
apodrecendo, outros eram esqueletos com vestes rasgadas e puídas,
que o chão e os objetos eram feitos de velhas ossadas e que as
garrafas estavam cheias de areia, não de rum. A atmosfera viciada como uma nuvem de carne podre não incomodava as criaturas, que continuavam a cantoria ser dar atenção ao aterrorizado recém-chegado ajoelhado na beira de um mar sem ondas.
O açougueiro sem dedo que
trabalhava no cais
Passava o dia fazendo piada da falta que o dedo lhe faz!*
Passava o dia fazendo piada da falta que o dedo lhe faz!*
Charles levantou-se cambaleante,o ambiente bizarro rodopiando ao seu redor. Sua capa e cartola haviam
sumido e dado lugar a uma veste simples de viagem. Calçava botas de couro em vez dos sapatos lustrados e seu longo
rabo de cavalo caía pelo ombro; reconheceu com asco que tudo estava assustadoramente conforme sua
época de trabalho em alto-mar.
– O que... é isso...? –
finalmente conseguiu formular uma sentença completa entre os
pensamentos atordoados – Onde... eu... estou...?
– Onde mais poderia estar?
Apesar de tê-la enterrado no fundo de
seu espírito junto com tudo que julgava indigno,
Charles reconheceria aquela voz em qualquer situação. Para seu
próprio desgosto, olhou para o lado e viu um pirata
mais alto e forte que ele com os braços abertos em uma cordialidade exagerada. Sua pomposa figura de capitão não trazia nada de cadavérico ou anormal, excetuando-se, entretanto, o nó de enforcado pendurado em seu pescoço.
– Bem-vindo a Londres, velho amigo!
A nossa
Londres!
– ... MORTIMER? – Charles saltou de
lado, gelado como se seu sangue parasse de correr – Não
pode ser... eu... eu fiz sua autópsia!!!
– Eu sei! Eu estava lá! – o
pirata riu grotescamente, dando um trago em seu cachimbo e coçando a barba bem feita – Faz tempo mesmo, hein Atkins... mas eu
me lembro de tudo, claro... sabe que é burrice das as costas ao passado,
não é? É como...
Ele se aproximava do médico, que o encarava chocado demais para racionalizar tantos absurdos e reagir adequadamente. Mas quando o rosto do capitão aproximou-se
demais e transfigurou-se em uma caveira hedionda, seu senso de perigo pareceu despertar.
– … é como dar as costas a um
pirata, não concorda, cirurgião da peste???
Gritando horrorizado, Charles desatou a correr pela paisagem desconhecida ao som das risadas vingativas do
capitão putrefato.
Oh oh oh e uma garrafa de run!Onde está o "cirurgião da peste"?...no LIMBO cercado pelo seu Passado!!hahuahuahua..boa filha...o duro é esperar pela próxima segunda...ai ai...
ResponderExcluirSacripanta. Há quanto tempo não ouvia essa palavra!
ResponderExcluirArgh! Como seria o odor barato de prostitutas? Aliás, prefiro não saber...
"- Não pode ser... eu... eu fiz sua autópsia!!!" Melhor frase aterrorizante!
Dá vontade de aparecer assim como Mortimer aos médicos malditos que nos atendem mal por aí!
Saudações
ResponderExcluirNo início a rima (que achei ótima) e na sequência a bebida (fazendo o estrago esperado - positivamente falando - nos personagens).
Deverás lançar seu conto em pdf em oportuna oportunidade, nobre Ana.
Até mais!