Ano 3115 CH – Ciclo 36 –
Semana 4
–
Atravessar a capital? Você é engraçado, cara. Só porque sua U.M. é
melhorzinha...
– Só nos
restou essa rota. Agora, pode encher a sacola, por favor?
– Bem, o
problema é de vocês... – um
barbudo de meia-idade usando um gorro encardido começou lentamente a colocar
mantimentos na sacola de Ymir – Já vi alguns malucos morrerem tentando essa
proeza. Desde a queda do Cinturão Resplandescente, aquilo lá virou um antro...
– O que
mais você sabe sobre a situação?
No mesmo instante, o negociante esticou a mão aguardando um novo
pagamento. Ymir revirou os olhos perante aquele abuso que estava se tornando
comum em todo tipo de comércio e remexeu na mochila, procurando qualquer coisa.
– Que tal
isso aqui? - retirou um crucifixo translúcido – É de Vitral Diamante, o mesmo
material dos prédios do Cinturão.
– Oh, isso
é interessante, rapaz – com os olhos brilhando, o comerciante tomou o item das
mãos de Ymir – Bem, vai encontrar muito
disso por lá, mas não em condições de uso. O Cinturão costumava ser a joia de
boas-vindas da capital, mas agora é culpado por seu isolamento... sua
destruição ilhou a cidade e mostrou como o Vitral pode ser fatal... bem,
ninguém imaginaria que todos os edifícios acabassem em ruínas ao mesmo tempo,
né?
Depois disso, Ymir não descobriu mais nada de útil e retornou ao
veículo onde Kari montava guarda. Depois de uma última olhada ao redor, ambos
entraram na U.M. e só falaram depois de selar as janelas e ativar a flutuação.
– Tive de
me desfazer do crucifixo de Jano... – Ymir bufou insatisfeito, mas deixou sua
frustração de lado ao vê-la tentando se contatar ao comunicador da mãe
novamente. À exceção de seus irmãos, desconheciam o paradeiro de toda a família
e esse desespero os assaltava frequentemente.
– Dione também
não atendeu hoje. Espero que esteja tudo bem lá no Endeavour... bem, ela também
tem suas obrigações como médica lá... mas queria que ela retornasse a ligação...
– Venha
aqui. – ele colocou a mão sobre a dela, trazendo-a mais
para perto de si e beijando-a demoradamente. A situação extrema que viviam
deixava pouco tempo para trocarem carícias, mas às vezes era necessário demais
lembrar que ainda tinham um ao outro naquele caos de incertezas.
Entretanto, um baque seco e forte no teto do veículo os puxou de volta
para a realidade alguns minutos depois. As conversas do lado de fora eram
indiscerníveis, mas um comando forte e malicioso confirmou terríveis intenções.
– Batam até
esmigalhar!
– Droga,
justamente agora? – sofrendo
fortes pancadas na U.M, só restou ao casal ir a toda velocidade para frente.
Kari ativou o painel externo e soltou um grunhido de desgosto quando viu os
agressores, um bando de moleques com tacos de beisebol manchados de sangue e skates flutuantes de modelo ultrapassado.
–
Aqueles... Ymir... – Kari engoliu em seco. Não esqueceria o rosto dos assassinos do Dalai Lama, não importa quanto tempo tivesse passado.
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