– Um lugar? Você disse que se
lembra de um lugar? Um ponto específico, marcado em um mapa e
tudo? Um mapa que veio com você?
– Vejo que memorizou bem minhas
palavras, dada a precisão com que as repetiu. – Charles respondeu
com um toque de ironia ao marinheiro estirado sobre um barril de
cidra apodrecido. Ele mantinha sua caneca empoeirada suspensa no ar,
encarando o médico com ar assombrado.
– Bem, é a primeira vez que vejo
alguém com uma lembrança tão forte por aqui. Se é tão importante,
é melhor correr antes que ela desapareça. – virou a caneca em um gole,
sorvendo a areia que logo em seguida deslizou pelas costelas expostas
– Uma coisa dessas só pode ser resolvida pela Rainha.
– E vocês têm uma Rainha? – Charles
levantou a sobrancelha, estranhando mais o respeito de um pirata pela
Rainha do que a efetiva existência dela.
– Aqui é Londres, amigo! É claro que
temos Rainha! – ele abriu os braços e soltou um riso rouco e
debochado, como se aquilo fosse óbvio demais para ser comentado.
– Que seja. Tenho pressa mesmo, se é o que preciso... onde
posso encontrá-la?
– Simples. Procure pelas cabeças
abaixadas. – ele apontou uma direção com o dedo podre –
Vai reconhecer as ditas no momento em que as enxergar.
Julgando que não arrancaria mais nenhuma informação útil do pirata em decomposição, Charles retomou a marcha na direção indicada. Sentia sua própria pele descascar-se e o pulso diminuindo o ritmo pouco a pouco, o que aumentava seu senso de urgência. Precisava sair dessa Londres antes que fosse tarde demais para seu corpo.
Impossível saber o quanto andara e onde estava exatamente quando o clima do ambiente pareceu mudar e o silêncio começar a se impor. Aos poucos, as figuras disformes espalhadas por todo o lugar foram interrompendo seus afazeres caóticos até se voltarem a uma só direção e, com sincronia inacreditável, caírem ao chão de joelhos.
– Oh, mas esse aqui eu desconheço!
Concentrado no fenômeno ao seu redor, o cirurgião não percebeu a voz feminina e estridente se dirigindo a ele, o único ainda em pé. Quando levantou os olhos, deu com uma figura feminina avantajada e grávida, usando largas vestes imperiais em frangalhos e uma peruca negra embaraçada. Ela o fitava com olhos vazios típico dos loucos, trazendo um bebê em farrapos nos braços e nove crianças cadavéricas de diferentes idades agarradas às suas saias.
– E não é que é mesmo a Rainha?
Vendo-se entre o assombro, o fascínio e o pastiche, Charles não evitou um sorriso e fez uma longa mesura, como ditava a tradição e as boas maneiras. Afinal, ainda era um médico real.
Julgando que não arrancaria mais nenhuma informação útil do pirata em decomposição, Charles retomou a marcha na direção indicada. Sentia sua própria pele descascar-se e o pulso diminuindo o ritmo pouco a pouco, o que aumentava seu senso de urgência. Precisava sair dessa Londres antes que fosse tarde demais para seu corpo.
Impossível saber o quanto andara e onde estava exatamente quando o clima do ambiente pareceu mudar e o silêncio começar a se impor. Aos poucos, as figuras disformes espalhadas por todo o lugar foram interrompendo seus afazeres caóticos até se voltarem a uma só direção e, com sincronia inacreditável, caírem ao chão de joelhos.
– Oh, mas esse aqui eu desconheço!
Concentrado no fenômeno ao seu redor, o cirurgião não percebeu a voz feminina e estridente se dirigindo a ele, o único ainda em pé. Quando levantou os olhos, deu com uma figura feminina avantajada e grávida, usando largas vestes imperiais em frangalhos e uma peruca negra embaraçada. Ela o fitava com olhos vazios típico dos loucos, trazendo um bebê em farrapos nos braços e nove crianças cadavéricas de diferentes idades agarradas às suas saias.
– E não é que é mesmo a Rainha?
Vendo-se entre o assombro, o fascínio e o pastiche, Charles não evitou um sorriso e fez uma longa mesura, como ditava a tradição e as boas maneiras. Afinal, ainda era um médico real.
Essa história está cada vez melhor com o Charles a vive nesse "limbo" de piratas atrás do seu tesouro o/o/...e o tempo urge!!Que venha a próxima segundaaaaaaaaa
ResponderExcluirSaudações
ResponderExcluirPrevejo um conto dedicado ao Charles, personagem, para breve...^^
Até mais!
Estava sentindo falta de diálogos, mas agora minha vontade foi saciada.
ResponderExcluirBom diálogo e ótima descrição de personagens. A imagem da grávida com o bebê e as 9 crianças cadavéricas daria uma pintura sensacional. A cidra apodrecida me deu nojo e curiosidade.
Esse foi meu capítulo favorito até agora.